A linha de Pomba-gira, ou como eu gosto de chamar Bombo-Gira, é muito apreciada por todos os praticantes de religiões de matrizes africanas, seja o candomblé, Umbanda, Quimbanda e todas as demais. Antes de conversarmos sobre a Dona Figueira em especifico, gostaria de realizar algumas considerações importantes sobre o tema.
Olodumarê/Eledumarê, também chamado de Olofim e até mesmo de Zambi (Umbanda) é o Deus criador de tudo e de todos. Os Orixás são seres divinos ou divinizados perfeitos, personificam a natureza (rio, mar, rochas, etc) e são os responsáveis pela "administração" do Universo. O Ori é traduzido como "cabeça", porém ele não é necessariamente um parte do corpo, e sim um aspecto metafisico de um "deus pessoal" que habita cada ser-humano. Exu é um Orixá (ser divino), bem como existem os exus (espíritos) que muitas vezes incorporam e atuam como os mensageiros dos Orixás, assim como os êres (crianças) são os porta-vozes dos Orixás, pois os deuses não falam na incorporação. As Bombo-giras são a contraparte feminina dos exus, ou seja, um grande grupo de espíritos que atingiram elevados graus de evolução e trabalham diretamente para os deuses, não sendo almas de dimensões obscuras ou até mesmo seres recém desencarnados. São antigas, evoluídas, poderosas e em contato direto com seus respectivos Orixás.
Gosto dessas informações prévias para que possamos desmistificar alguns entendimentos (objetivo do blog). Então, você, caro leitor, não pode ser filho (a) de um exu (espirito) ou de uma pomba-gira, muito menos de um caboclo (a) ou de um preto(a)-velho(a), pois eles são ESPÍRITOS desencarnados evoluídos, mas não são Orixás, nos somos filhos (as) APENAS de Orixás (deuses)! É claro que temos carinho e um apreço enorme por todas as entidades, mas jamais podemos chama-los de pai ou mãe.
Continuando, dentro da categoria de Pomba-gira temos as falanges, ou seja, subgrupos que possuem o mesmo nome e atuam sob a mesma égide. Então, quando temos duas, três ou mais Marias Padilha das 7 Encruzilhadas dentro de um terreiros, significa que aqueles espíritos são da mesma falange.
Realizadas essas considerações iniciais, a nossa conversa será sobre a falange de Pomba-Gira da Figueira, uma das entidades mais emblemáticas e simbólicas da linha da esquerda. Obviamente, temos de tratar primeiro de seu nome: "Figueira". Não tão antigamente, as mulheres que não possuíam filhos eram chamadas de "figueira" ou "figueira-seca", como forma de ofensa. Não adentraremos nos detalhes de polinização ou frutos da mencionada árvore. Então, o nome dessa falange simboliza um aspecto feminino maravilhoso, pois apesar dessa forma de afronta, elas demonstram totalmente o oposto, sendo espíritos compreensivos e atuantes na nossa evolução, como uma mãe.
Muitas casas atribuem a falange das Figueiras como uma linha voltada para quebra de feitiços, limpeza de energia deletérias, um vasto conhecimento sobre ervas, preparados e demais elementos da feitiçaria. Apresentam-se como mulheres joviais, alegres, muito comunicativas e com uma sabedoria antiga, visto sua forte ligação com a magia. Apreciam as cores tradicionais, o preto e vermelho, porém adoram cores alegres como o cor-de-rosa, verde, amarelo, dourado e o azul-celeste.
Podemos verificar a ocorrência de falanges que recebem parte de seu nome, por exemplo, Maria Padilha da Figueira. Entendo que se tratam de grupos diferentes, um das bombo-giras da Figueira e outro da Maria Padilha da Figueira. Evidentemente, muitos zeladores (as) podem discordar, defendendo que não existe uma falange da Dona Figueira, mas espíritos espalhados entre as linhas que adotam o nome da árvore como um símbolo ou homenagem da luta feminina.
A dona Figueira adora conversar, aprecia bebidas doces como o espumante e o licor, bem como as cigarrilhas. Sua farofa pode levar frutas próprias e muito enfeitada com cores vibrantes. Nunca negam proteção para os consulentes (sempre observando o merecimento de cada um). Muitos atribuem um aspectos de feiticeiras, estilo Wicca ou outras vertentes do paganismo, visto sua manipulação de axés (energias) antigas e misteriosas.
Seus médiuns sentem uma energia densa, o que não é sinônimo para obscuro ou negativo, e sim para forte e pungente. Após o transe, o médium sente uma forte limpeza espiritual e quebra de forças nocivas, pois conforme exaustivamente explicado, seu ponto de força se concentra no desmanche de feitiços, demandas e inveja. Muitos atribuem que são bastante procuradas para trabalhos amorosos, confiro essa busca diante de seu altíssimo conhecimento de plantas, pós, óleos e demais elementos voltados para manipulação de energias. São, geralmente, associadas como servas de Oxum, afinal, é a Yaba (Orixá feminina) ligada as feiticeiras.
Axé a todos e Saravá Orixás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário