sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sem preconceito.

O Ministério Público Federal (MPF) fez uma tentativa de retirar alguns vídeos que disseminavam preconceito religioso contra religiões afro-descendentes, como a Umbanda e o Candomblé, o juiz da Vara Federal decidiu não retirar os tais vídeos e ainda reiterou sua decisão dizendo que não eram religiões pois não possuem "traços" necessários para essa classificação, que seriam um texto base (como a bíblia e o Alcorão), estrutura hierárquica e um Deus a ser venerado.
Entendo que para alguns a fé não é algo importante e não merece tanta atenção, entretanto para a maioria é algo fundamental, pois fé é crer em algo maior que nós, o qual não vemos ou tocamos, mas simplesmente acreditamos por sentirmos. Então seria a mesma coisa de dizer a qualquer pessoa que tudo o que ela amou e acredita não vale nada, não tem valor e que é algo sem valor. Dá para notar o impacto que uma decisão dessas tem então?
Mas como de costume são conceitos ignorantes de pessoas que não conhecem a cultura. Primeiramente quero frisar que não vale só ter dom para ser um zelador ou zeladora de santo (o famoso pai e mãe de santo), é necessário no mínimo 10 anos, para chegar a esse patamar, o individuo passa por N rituais, onde purifica seu corpo, o principal é a obrigação de santo, onde o iniciado realmente “renasce”,  após isso existe todo um resguardo o qual varia de três meses a um ano, onde é proibido sair para bares, boates, festas, bebida alcoólica, cores escuras, até mesmo em alguns casos o sexo e entre outras coisas, ou seja, a pessoa partilha parte de sua vida a essa vocação, se preparando, apreendendo tanto sobre a vida espiritual quanto a social, e conforme os anos sobe de cargos até um dia talvez chegar a ser um Zelador.  Então a primeira alegação já é uma mentira e falta de conhecimento.
 O segundo ponto diz sobre a existência de um texto base. Minha primeira abordagem seria sobre a própria fé, é algo tangível? É possível tocar Deus ou qualquer santo? O que tem nas religiões de tangível serve como representação do divino, pois o mesmo é intocável, então se o máximo da fé é algo o qual não se ve e não se toca, por que seria necessário um livro para isso? Meio contraditório, mas bem coisa da humanidade descrente querer algo material para controlar o espiritual. Segunda abordagem, essas religiões são mais antigas que a própria escrita, então é uma cultura com base oral, tudo passado em segredo conforme o posto hierárquico dos filhos de santo.
Terceiro ponto seria sobre a existência de Deus, chega a ser ridículo alguém falar isso, pois nos tanto Umbanda quanto Candomblé tem um Deus único, onipotente, onipresente e onisciente, Olodumarê, muitos confundem os Orixás como a figura de Deus, mas somos monoteístas, os Orixás são forças da natureza que comandam nosso Mundo e nos somos filhos deles, oramos para que eles possam interceder por nossas vidas, como os santos católicos, os Orixás nos ensinam segredos das ervas, de trabalhos para saúde, prosperidade e afins, mas a regência do Universo pertence a Olodumarê, nosso Deus.

Entendem como o preconceito é pura ignorância? Muitos não sabiam disso e talvez nem parem para ler, ver que essas religiões rezam com alegria, música e ficam em estado de felicidade e alegria para entrar em contato com seu Deus e os Orixás, passam anos se purificando e apreendendo sobre a vida e o mundo espiritual para curar, salvar vidas, trazer prosperidade, levantar os necessitados, prestar o bem e a caridade. Não queremos convencer ninguém de um fé absoluta, só pedimos respeito e compreensão sobre nossa fonte de amor e adoração, pois é algo que nos levanta nos piores dias, é onde nos agarramos com todas as forças no meio dessa podridão do Mundo e das pessoas, nosso ponto de paz e segurança, de onde retiramos nossas forças. E uma religião tão linda, cheia de cores, riqueza cultural, cantigas de milhares de anos, dança, orar em uma roda de Candomblé ou numa gira de Umbanda é uma das coisas mais lindas e emocionantes, realmente se entra em contato com o divino e o espiritual.

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